As antigas culturas e tradições, de todo o mundo, conheciam e honravam a existência de seres espirituais dos reinos da natureza, bem como os seres sobrenaturais de vários planos sutis. Apesar do ceticismo moderno, que levou à perda do contato com a dimensão sutil e mágica do universo, somos permanentemente cercados por seres espirituais, que podem influenciar nossa vida de maneiras positivas ou dramáticas. Ao resgatarmos nossa conexão ancestral com a “Grande Família”- da qual fazem parte todos os seres da Criação -, iremos reconquistar a nossa plenitude interior, a percepção sutil e o olhar “mágico” para ver e sentir tudo o que está ao nosso redor. Se abrirmos sem reservas o nosso coração e a nossa mente para buscar a sintonia com nossos “irmãos menores” e a integração no fluxo da vida, ultrapassaremos a ilusão da separatividade e a nossa pretensa superioridade.
Em várias tradições, os seres da natureza são descritos como fazendo parte de três reinos: o mundo subterrâneo, o mundo mediano (físico e humano) e o mundo superior ou cósmico, ao qual pertencem principalmente os seres sobrenaturais. No entanto, a realidade é mais complexa e abrangente, pois o espírito permeia o Todo e tudo que dele faz parte. Todas as manifestações da realidade têm um aspecto espiritual, que pode aparecer de maneira ativa ou passiva, de curta ou longa duração. Os espíritos de um determinado ambiente natural são tão variados quanto a fauna e a flora; por existir um contínuo movimento de desenvolvimento e mudança, que diminui os limites entre as diversas formas, a gama das suas apresentações fica muito mais ampla e diversificada. As classificações dos seres espirituais dependem da cultura ou escola metafísica, existindo nuances entre as divisões mais tradicionais. De forma simplista, podemos usar a divisão em devas, espíritos elementais e os seres elementares.
Devas
Os devas são seres sutis, de vibração elevada, celestes e brilhantes, cuja estrutura é etérea e especifica ao elemento ao qual pertencem. Eles atuam como intermediários entre os anjos e a humanidade, associados a determinada área ou forma vegetal, mais ligados ao “mundo verde” do que às coisas materiais ou intelectuais. Por serem naturalmente alinhados com a Fonte Divina, eles guardam na sua consciência a matriz ou a memória do substrato ao qual são ligados, na sua forma mais perfeita. Em outras palavras, têm acesso à “ideia perfeita” da criação, antes da sua manifestação na realidade física e que representa o alvo dos seus esforços. Porém, a sua habilidade de criar formas perfeitas pode ser prejudicada ou bloqueada pela poluição – do ar e da terra -, pelas catástrofes naturais ou pelo campo mental, emocional e material humano.
Os devas são seres evoluídos, possuindo chacras, cujo número e tamanho mostram a natureza e o grau de elevação do seu trabalho. São semelhantes aos anjos, dos quais se diferenciam pela quantidade e qualidade da luz irradiada, seu trabalho sendo conjunto e entrelaçado, sem que haja uma demarcação clara, apenas uma mescla ou sobreposição de funções. Os devas recebem as energias irradiadas pelos anjos e as retransmitem para os níveis astrais de menor vibração, onde existem outros espíritos da natureza. São seres grupais, entrelaçados pelas energias e padrões vibratórios do seu respectivo grupo; uma “família” formada por muitos seres dévicos tem uma única consciência e alcança uma maior área de atuação, sendo ligada às divindades. Os devas são associados a certos lugares específicos, como montanhas, rochedos, geleiras, planícies, florestas e áreas cultivadas, onde supervisionam os processos naturais, emitindo impulsos adequados para o desenvolvimento harmonioso de cada habitat. Devido à sua consciência expandida, um deva pode abarcar todos os processos do plano em que atua, bem como coordenar as atividades dos espíritos de menor evolução. Por serem conscientes das atividades dos seres humanos, respondem com uma aceleração da sua vibração e luminosidade a todos os que percebem, admiram ou se alegram com a sua presença, podendo, em certas ocasiões, ter contatos telepáticos com eles. A vibração dos devas é luminosa e harmoniosa, alegre e compassiva, eles não têm opiniões individuais, nem julgam o que acontece ao seu redor.
Existe um tipo especial de devas, que não são confinados apenas nas áreas puras ou selvagens da natureza, mas se encontram nas cidades, perto de usinas, empresas e moradas e que trabalham para “limpar” a terra, o solo, o ar poluído e a egrégora humana e animal. Os de níveis mais elevados aparecem como anjos que cuidam dos doentes, de crianças e animais domésticos, das estações elétricas, do tratamento de resíduos tóxicos e do lixo, com a mesma dedicação como os que cuidam de árvores e flores. Às vezes, a poluição, a negatividade e densidade do ambiente físico e psíquico podem baixar a sua vibração e alguns deles desenvolvem padrões comportamentais negativos, que exigem a ajuda e a compaixão dos seres humanos mais evoluídos e conhecedores de técnicas de transmutação, cura e elevação espiritual.
Isso pode acontecer com os espíritos de todos os reinos, dando origem às histórias dos “espíritos maus”, que aumentam a egrégora negativa repleta de medos, maldades, violências, doenças, desequilíbrios diversos, juntamente com seus efeitos reais sobre os seres humanos, que podem responder com o mesmo teor energético (no nível mental, emocional, psíquico, material, mágico), de forma consciente ou inconsciente e criando assim os seres elementares, de baixo teor vibratório. Estes seres aparecem como fantasmas, larvas astrais, “encostos”, “quiumbas”, obsessores ou vampiros energéticos, cuja descrição foge ao propósito deste artigo.
Espíritos elementais
Tudo no mundo físico, incluindo os seres humanos, é formado pela combinação dos quatro elementos estruturadores - fogo, água, ar e terra – sendo que um ou mais destes elementos podem predominar na sua constituição. Desde Aristóteles é também levado em consideração um quinto elemento, a “quintessência”, o éter, de origem celeste e radiante, ligado à essência espiritual. Os seres menos evoluídos pertencem a um só elemento específico e têm uma vibração energética simples; os mais evoluídos são complexos e conectados a outros elementos além do seu próprio. Por exemplo, um elemental da tempestade combina na sua estrutura ar e água, além de ter a presença do fogo nos relâmpagos. Um grupo maior destes elementais forma um titã ou gigante, que são os mais antigos seres, associados às grandes mudanças climáticas e planetárias, responsáveis por terremotos e maremotos, deslizamento das placas tectônicas e o movimento dos continentes.
Alguns destes espíritos são compostos de matéria astral e etérea, que lhes dá uma aparência radiante. Eles canalizam as forças astrais para vitalizar o campo etéreo e as retransmitem para sua manifestação no mundo físico, tendo um maior nível de consciência do que os que trabalham apenas no campo etéreo. À medida da sua evolução, eles podem se individualizar tornando-se conscientes do seu ambiente e interagindo com as forças ao seu redor. Eles não têm livre arbítrio, mas têm vontade própria, podendo responder em função das suas ações e propósitos dentro do seu campo de atuação. Na sua aparência, aqueles que auxiliam os seres humanos assumem feições ou características humanas, por serem formados da mesma matriz e com a mesma geometria sagrada. Mas nos ambientes em que as pessoas não conseguem viver sem suporte artificial - como nos oceanos ou na profundidade da terra – suas formas variam, alguns aparecem como seres indefinidos ou grotescos, tendo esboçados a cabeça, o corpo e os membros. Eles possuem centros energéticos simples, alguns são alados, principalmente os associados a plantas, ar e fogo, diferenciando-se assim dos associados à água, mais fluidos e mutáveis e à terra e rochas, mais densos.
Os seres elementais são conhecidos como “criadores de formas”, pois traduzem as formas mentais dos anjos menores em formas etéreas e depois físicas. Possuem corpo etéreo, falam e se comunicam entre si, se nutrem energeticamente e se reproduzem. Não podem ser destruídos por elementos materiais, mas não são imortais, podendo viver entre 300 e 1000 anos; quando seu trabalho termina, são reabsorvidos no oceano do espírito. Seu tamanho é variável e pode ser mudado junto com a sua aparência, mas usando o mesmo elemento de origem, que é responsável pela sua classificação em gnomos, salamandras, silfos e ondinas.
Os Gnomos, fazem parte do elemento terra, cuidando dela, bem como dos minerais, metais, plantas e árvores. Sua aparência é rude, com feições envelhecidas ou retorcidas; eles compreendem o que veem e ouvem, tendo uma consciência clara, com percepção interior, conhecimento imediato e intelecto universal. As plantas recebem as energias cósmicas e as conduzem para o solo, onde os gnomos coletam a informação e a retransmitem à terra e aos minerais. Eles vivem em comunidades debaixo da terra, nas florestas, grutas ou frestas sendo regidos por Gobi; são ariscos e não confiam nos seres humanos, muito sensíveis às fases da Lua e evitam os raios solares que podem petrificá-los. Conhecem-se vários subgrupos: dríades, anões, pigmeus, leprechauns, kobolds, brownies, land-vaettir, espíritos protetores das casas, sátiros e faunos, entre outros.
As Salamandras pertencem ao elemento fogo e diferem entre si pelo tamanho (que elas podem modificar), aparência e qualidade, sendo os elementais mais poderosos, no nível construtivo ou destrutivo. As salamandras atuam como mediadoras entre os anjos e os níveis físicos da criação. Seu regente é Djin e elas são consideradas agentes de transformação, envolvidas nos processos de decadência, morte e regeneração. Aparecem como seres radiantes - nas chamas das fogueiras ou dos vulcões (onde podem assumir formas humanas com aspecto demoníaco) - ou como luzes brilhantes oriundas dos processos de decomposição (conhecidas como “fogo-fátuo” visto nos cemitérios).
Os Silfos são ligados ao elemento ar e têm a frequência vibratória mais elevada, possuindo tamanhos variáveis, do pequeno ao gigante; são seres voláteis e mutáveis, alados ou não, podendo assumir formas humanas por pouco tempo. Seu regente é Paralda, seu veículo o vento, trabalham no éter e aparecem como seres amistosos, que ajudam os seres humanos nas artes criativas, conferindo-lhes inspiração. Eles vivem no topo das montanhas por centenas de anos e não aparentam envelhecer, mas são sensíveis às mudanças atmosféricas. Podem aparecer no meio das nuvens, nos redemoinhos de poeira e nos tufões; são associadas aos pássaros e às borboletas e transferem luz para as plantas.Em algumas tradições consideram–se os elfos e as fadas como pertencendo aos silfos, porém com características e tributos diferenciados.
As Ondinas habitam no interior da água, controlam suas funções e acompanham seu movimento, cuidam das plantas aquáticas e dos seres que habitam nas águas. Aparecem com lindas e graciosas formas femininas, às vezes tendo caudas de peixes e cavalgando as ondas, envolvidas por uma substância etérea, luminosa e iridescente, que brilha com as cores do mar, predominando verde e azul. Também são encontradas nos rios, fontes, córregos, cachoeiras e lagos, como lindas e louras jovens, penteando seus longos cabelos. Às vezes moram nas cavernas de corais ou sob as pedras do fundo do mar ou rio, se escondem entre as raízes das plantas aquáticas, deslizam brincando nas cachoeiras ou ficam nas rochas das margens dos rios. As ondinas trabalham com a essência vital das plantas, dos animais e seres humanos, estando presentes em tudo que contém água; sua regente se chama Niksa, que elas servem e obedecem com amor. São seres sensíveis e emotivos, sonhadores e mutáveis, que adoram música e dança; aparecem e desaparecem com rapidez, mas também podem assumir comportamentos prejudiciais aos homens, atraindo-os e os encantando, para depois deixá-los se afogarem. Dependendo do seu habitat e da sua tradição de origem, seus nomes variam entre sereias, ninfas, náiades, oceânides, nereidas, iaras ou nixies.
Além dos seres ligados essencialmente à natureza, existem elementais associados à estrutura humana.
O Elemental dos Grupos: formado junto com a estruturação de um grupo, sua força e energia dependem das emoções, pensamentos e integração dos seus membros. Ele influencia os integrantes conectando-os e permitindo - ou barrando - a entrada de um novo membro, se o seu campo emocional ou mental for dissonante da egrégora grupal.
O Elemental do Corpo: é situado no corpo etéreo, sendo a sua função criar a forma física do corpo (na concepção e gestação), depois cuidando do seu crescimento e amadurecimento, até a morte. Ele é responsável pelo bem estar do corpo, manipulando as energias da natureza, transferindo-as para os corpos sutis e depois ao físico, ajudando assim na homeostase cotidiana. É um fator importante na autocura, por conhecer intimamente a estrutura molecular até o nível celular (DNA) e por ter ajudado a criar o corpo, como um invólucro temporário da alma. Ele sabe onde os traumas e as memórias são armazenados e tem o mapa dos lugares com problemas energéticos ou físicos, sendo capaz de resgatar a informação e liberar o conhecimento atávico para ajudar no processo de cura. Acredita-se que é localizado entre o plexo solar e cardíaco, conectando alma e corpo com a mente divina, seu fluxo energético seguindo a coluna vertebral até a cabeça. Pode ser contatado durante a meditação, nas sessões de cura ou regressão de memória, mas ele não pode atuar sozinho, cabendo à pessoa assumir a responsabilidade para mudar e melhorar seu estilo de vida.
Para isso é importante que cada um de nós cuide da sua alimentação, atividade física, repouso e higiene mental, modificando comportamentos prejudiciais e tóxicos, buscando a conexão e sintonia com os reinos da natureza, empenhando-se no aprimoramento espiritual e na ampliação da sua consciência, para assim se integrar e harmonizar com todos os seres, elementos e reinos da Criação.