Dia 19 de abril comemora-se, no Brasil (Decreto Lei n.5540, 2.6.1943), o Dia do Índio. Segundo estudos antropológicos, a população pré-histórica do Brasil teve início com a chegada de grupos humanos vindos da Ásia, através do Estreito de Bering e das Ilhas Aleutas, e que ao aportarem no litoral brasileiro, mais propriamente nas terras da Amazônia, encontraram clima e solo propícios para seu estilo de vida. Há também uma corrente na qual a origem dos índios da América ou ameríndios não é só asiática, mas também australiana e malaio-polinésia.
A definição que os antropólogos dão sobre o que vem a ser índio é: ser descendente genealógico de uma comunidade silvícola de origem pré-histórica, possuir a cor morena, olhos e cabelos pretos e lisos, estatura mediana baixa e aspectos fisionômicos de mongóis. Essas características fortalecem a tese dos estudiosos de serem os ameríndios originários de grupos imigrantes asiáticos, australianos ou malaio-polinésios.
Com a descoberta do Brasil pelos portugueses no século XVI, e em decorrência da colonização européia, dos conflitos e das doenças adquiridas pelo contato com os homens brancos, muitos índios foram desagregados do seu habitat natural. Inclusive, grande parte da população indígena foi reduzida em mais da metade, as tribos que resistiram a estas transformações estão integradas direta ou indiretamente à sociedade, e outra parte ainda vive isolada em regiões da Amazônia.
As tribos ou sociedades indígenas são classificadas através de afinidades lingüísticas, como Tupi, Macro-Jê, Aruak, Karib, Tukâno, Pomo, Guaykuru, formando assim tribos de determinados grupos lingüísticos, pertencentes ao mesmo tronco genealógico. Outra forma de identificação das tribos se dá através dos aspectos culturais ou homogeneidade de costumes existentes entre os grupos que habitam as diversas regiões geográficas do Norte da Amazônia, Juruá-Purus, Guaporé, Tapajós, Madeira, Alto Xingu, Tocantins, Xingu, Pindoré-Gurupi, Paraguai, Paraná, Tietê-Uruguai e as do Nordeste do Brasil.
Para garantir sua sobrevivência, os índios utilizam-se de recursos naturais bastante rústicos como: a caça, a pesca, a agricultura rudimentar e as queimadas como forma de fertilização do solo.
A sociedade indígena se organiza em aldeias que se diferenciam umas das outras pelo formato das habitações: em formas circulares, estacas fincadas cobertas com folhas de palmeiras e taperas de barro cobertas com palhas.
A expressividade cultural das comunidades indígenas, a crença e suas raízes ancestrais são vistas através das práticas artesanais e rituais.
A arte indígena mistura-se à vida cotidiana das comunidades e suas práticas são visualizadas através dos objetos utilitários, da cerâmica, dos trabalhos em madeira, da pintura, da cestaria, da arte plumária, da pintura ritual dos corpos e dos adornos.
A mitologia e as lendas estão relacionadas aos seres encantados e sobrenaturais que habitam as matas, os rios, igarapés, igapós, e protegem os animais. São histórias narradas no seio da sociedade indígena que servem de doutrina para os membros da comunidade. Dentre estas histórias de encantamento e lendas as mais conhecidas são: Anhangá, O Boitatá, O Boto, O Caipora, O Cairara, A Cidade Encantada, O Curupira, A Galinha Grande, O Guaraná, A Iara ou Uiara, O Lobisomem, A Mandioca, A Princesa do Lago, O Saci Pererê, O Uirapuru, O Velho e o Bacurau, O Velho da Praia, A Vitória-Régia, entre outras.
As manifestações folclóricas indígenas compreendem inúmeros rituais, sendo que o toré e os toantes são festejos realizados com mais freqüência entre os índios, como motivo de agradecimento, em casamentos, batizados, celebrações solenes aos visitantes da tribo e personalidades importantes, e também quando eles querem reivindicar às autoridades governamentais benefícios para sua tribo. Esses folguedos duram a noite toda, neles tomando parte os homenageados, as mulheres "cantadeiras" e os "praiás", que são dançadores que se fantasiam com máscaras, totens, colares e se pintam com tintas coloridas. O Kaurup é também uma das festas mais tradiconais de algumas tribos do Alto Xingu.
O TORÉ
É uma manifestação sociocultural comum a vários grupos indígenas das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
É dançado ao ar livre por homens e mulheres que, aos pares, formam um grande círculo que gira em torno do centro. Cada par, ao acompanhar os movimentos, gira em torno de si próprio, pisando fortemente o solo, marcando o ritmo da dança, acompanhado por maracás, gaitas, totens e amuletos e pelo coro de vozes dos dançarinos, que declamam versos de difícil compreensão, puxados pelo guia do grupo, no idioma da tribo.
É um ritual que expressa contentamento, sobre diferentes aspectos como: festas religiosas, louvação aos encantados, recepção a personalidades ilustres, confraternização, casamentos, batizados e outros. É uma forma de manter viva não apenas a cultura, a magia e a mística da tribo, mas também da conquista do seu espaço e a preservação de seus costumes e de sua identidade diante de muitas lutas durante toda a história do Brasil.
O KAURUP
É uma das maiores festas tradicionais indígenas. Trata-se de uma reverência aos mortos, representados por troncos de uma árvore sagrada chamada Kam´ywá. É uma cerimônia dos índios do Alto Xingu, em Mato Grosso.
O Kaurup se incia sempre no sábado pela manhã. Os índios, com muita dança e canto, colocam os troncos em frente ao local onde os corpos dos homenageados estão enterrados. Os filhos, filhas, esposas e irmãos choram o ente perdido e enfeitam o tronco que simboliza o espírito que se foi.
O tronco é pintado com tinta de jenipanpo e envolvido com faixas de linhas amarelas e vermelhas. Sobre o tronco enfeitado são colocados objetos pessoais do homenageado como: o cocar de penas de gavião, o colar feito de conchas, a faixa de miçangas usada na cintura e outros objetos. Cada morto é representado por um tronco de árvore.
A cerimônia do Kaurup realiza-se, tradicionalmente, nos meses de agosto e setembro, os mais secos do ano e que antecedem as grandes chuvas.
OS TOANTES
São as músicas sagradas dos índios cantadas durante os cerimoniais para invocar a presença de um ou mais seres encantados. Possui uma alucinante monotonia que hipnotiza e empolga os participantes.
São entoadas pelos cantadores ou cantadeiras e dançadas pelos praiás, índios dançadores profissionais, que usam máscaras, roupas e pinturas rituais.
Estão presentes em todos os cerimoniais das tribos, sejam cerimoniais abertos, rituais fechados ou particulares.
Existem diversos tipos de toantes: toantes das festas, que não possuem letra e os índios apenas emitem sons vocalizados; toantes particulares, que possuem letras e falam a respeito do encantado a que pertence e não podem ser assistido por estranhos; toantes de cura, um tipo de música utilizada pelos pajés benzedeiros, quando são solicitados para a cura de uma pessoa doente; são executados durante os rituais para invocar a presença de um ou mais seres encantados que tenham o poder de cura.
FONTES CONSULTADAS:
ANDRADE, Heitor. A música encantada Pankararu. Recife: Ed. do Autor, 1999. 177 f.
BEZERRA, Ararê Marrocos; PAULA, Ana Maria T. Lendas e mitos da Amazônia. Rio de Janeiro: Demec, 1985. 102 p.
CÂMARA CASCUDO, Luís da. Lendas brasileiras. Rio de Janeiro: Ed. de Ouro, 1984. 166 p.
PANKARARU, Maria Edna. Contando e escrevendo suas histórias: professores indígenas de Pernambuco. Recife: Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, 1997. 51 p.
PERET, João Américo. População indígena do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1975. 91 p.
Fonte: www.fundaj.gov.br
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