20/12/2010

Santa Brígida e o oráculo das festas cruzadas

Deve-se a santa Brígida da Suécia (Birgitte Persson, 1303-1373) uma profecia totalmente incomum, vinculada a exatas cadências temporais. Sempre surtia efeitos no calendário se fossem verificadas determinadas condições. Eis o texto, elabo­rado em 1360 e encontrado em uma caixa de chumbo no cemitério beneditino de Nápoles:

"Quando a festa de são Marcos coincidir com a da Páscoa, a festa de santo Antônio com a de Pentecostes, a festa de são João Batista com o Corpus Christi, haverá dificuldades para todo o mundo."

É indubitável que ocorreram dificuldades sérias em 1791, quando a conjunção se verificou, na plena sublevação da ordem revolucionária na França, destinada a provocar conseqüências duradouras em toda a sociedade civil. A santa havia profetizado para aquele ano “a ira de Deus sobre toda a terra”.

As datas voltaram a coincidirem 1848, no decorrer de um dos períodos mais tormentosos do século, quando os movimentos ressurgimentais italianos abala­ram antigos equilíbrios, com resultados sangrentos. Vacilou também naquele ano o poder temporal dos papas, e Pio IX viu-se obrigado à fuga. Brígida tinha previsto para aquela data a revolta de "povo contra povo".

O último enredo funesto das seis festividades se deu em 1943, em meio à mais assustadora guerra de todos os tempos, envolvendo todos os povos da terra. Voltarão a conjugar-se em 2038, ano, porém, que vai além das profecias de santa Brígida, pois prevêem o fim do mundo em 1999, quando "as luzes se extinguirão".

São recorrentes nos oráculos da vidente sueca, transcritos em latim por seus confessores no livro das Revelações, diversos eventos históricos contradistinguidos tanto por valores religiosos quanto políticos. Neste âmbito se colocam as previ­sões, por ela expressas ao atravessar a Grécia em direção à Terra Santa, sobre o fim do império cristão do Oriente e sobre a submissão das populações balcânicas ao jugo otomano.

"O império, os reinos e as senhorias [dos gregos] jamais estarão seguros nem em paz, mas submetidos a inimigos dos quais padecerão danos horrendos e longas misérias."

A tomada de Constantinopla por Maomé II, em 29 de maio de 1453, e a heróica morte em batalha de Constantino IX, último imperador do Oriente, autenticaram a profecia, pouco mais de oitenta anos após ter sido formulada.

Destacam-se, além disso, entre as Revelações surpreendentes acenos à Revolução Francesa, indicada como o movimento que expulsaria "o lírio reinante" (emble­ma da monarquia dos Capetos) para hastear "o signo da impiedade" (a árvore da liberdade). Referências mais específicas permitem individualizar, no contexto de tais profecias, a figura de Napoleão, definido como "a águia que recolherá a coroa perdida do lírio".

"Naquele tempo sairá da ilha [a Córsega, evidentemente] um terrível filho do homem, que traz a guerra no seu valoroso braço, que à frente dos gauleses combaterá itálicos, germanos, russos, ibéricos e turcos, subvertendo cada coisa."

É a epopéia, segundo Brígida, do "filho de um homem obscuro [de nascimento plebeu] vindo do mar". Terá o mérito de "portar o admirável signo na terra da promessa", fará com que os árabes conheçam a cruz, do Egito à Síria, mas provocará grande "tribulação na Igreja de Deus", invadindo Roma e fazen­do o papa refém de seus soldados (Pio VII, 1809).

"Ai de nós, quando o filho [do homem escuro] sentar-se no trono do lírio."

O interesse de tais profecias reside nas descobertas realizadas com séculos de distância, mas deve-se dizer que Brígida da Suécia gozou de notável popularidade em vida por suas extraordinárias visões, com freqüência destinadas a funcionar como advertência e como conselho sobre o comportamento de papas, príncipes e reinantes. Teve grande significado a mensagem com que induziu Gregório XI a romper a "escravidão avinhonesa", regressando a Roma.

O papa tergiversava contra as expectativas de toda a cristandade, e então Brígida, agora à beira da morte, comunicou-lhe ter sabido numa visão da Madona que ele morreria se não levasse o papado de volta a Roma.

"Bem pouco poderá rejuvenescê-lo a ciência dos médicos, nem o ar puro da sua terra", dissera sobre ele a Virgem, segundo Brígida, "se não se decidir a regressar."

Impressionado, o papa apressou-se a seguir a ordem "da Madona", levando o trono de Pedro de volta a Roma em 1374, após humilhantes sessenta anos de exílio na França. Brígida partiu pouco depois, em sinal de santidade não só pelas suas profecias, pelas visões recebidas em êxtase e outros fenômenos místicos que protagonizou, mas também pela intensa obra de caridade que desenvolveu no extremo norte da assolada Terra Santa, por suas peregrinações apaixonadas e pela fundação, enfim, da ordem do são Salvador, chamada "das brigidinas".

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