05/06/2010

Deusa Baubo o Poder da Alegria e Sexualidade

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O que constitui um corpo saudável no mundo instintivo? No nível mais básico
— o seio, o ventre, qualquer parte onde haja pele, qualquer parte onde haja neurônios para transmitir sensações — a questão não é a do formato, do tamanho, da cor, da idade; mas, sim, se existe sensação, se funciona como deveria, se temos reações, se temos todo um leque, todo um espectro de sentimentos. Ele tem medo, está paralisado pela dor ou pelo receio? Está anestesiado por traumas antigos? Ou será que ele tem sua própria música? Está ouvindo, como Baubo, através do ventre? Está olhando com uma das suas inúmeras formas de ver?

Baubo é uma antiga Deusa Grega do Ventre, conhecida também pelo nome de Iamba, era esposa de Dysaules e mãe de Mise. Em suas representações não possui cabeça, e sim um rosto que aparece no torso.

Sua história nos chega da Antiga Grécia, quando Deméter era a Deusa Mãe da Terra e todos os dias passeava pelos prados para cuidá-los, garantindo assim que houvesse abundância em nosso planeta. Regava as plantas, fazia florescer as árvores, sempre acompanhada da filha Perséfone que amava profundamente.



Um certo dia, Hades, o Deus dos Infernos seqüestrou Perséfone e a levou para as entranhas da terra.
Deméter caiu então, em profunda depressão. A terra reflete seu desespero e os campos se tornam estéreis.


Deméter em sua peregrinação atrás da filha chega a um lugar chamado Eleusis chorando muito.
A pequena ama Baubo, vendo-a tão desesperada, acercou-se dela dançando, levantou sua saia e mostrou sua vulva. Deméter sorriu e Baubo abraçou-a e disse-lhe que como Deusa da Terra, ela não poderia ser destruidora e sim transformadora. Em seguida continuou contando-lhe histórias bem picantes e engraçadas. As duas riram muito juntas até que a Mãe da Terra adquiriu novas forças para ir em busca da filha. A Terra riu com as Deusas, a Terra Floresceu.

A dimensão contagiante da alegria e do riso sagrado, junto com as festividades e cerimoniais em que se vê envolto, afasta a humanidade de seus pesares que constantemente os aferroam, afirma a vida e vence os temores da morte e da esterilidade.
Através da alegria e do riso nos esquecemos dos limites de nossa existência, além de nos ajudar a vencer obstáculos que põem em perigo a continuidade da vida.


Baubo é a Deusa radiante, amante do sorriso. Ela é a combinação de impulso sexual, natural e instintivo, e da arte altamente elaborada de amar.

Baubo vive em cada uma de nós, é a capacidade que todas nós temos de nos levantar e seguir em frente depois de um momento triste. De apostar no riso, como auxiliar na cura de nossas depressões. Baubo nos faz ainda entender como é poderoso, belo e mágico o corpo feminino. Qualquer que seja sua forma e seu tamanho, nosso corpo é único e, portanto, especial. A maioria das mulheres ainda se deixam prender na teia da propaganda que nasce do mundo do consumismo popular.

Comparando-se às outras, em vez de apreciar o que ela própria é, se tornará cativa daquilo que ela erroneamente identifica como defeitos pessoais.

Os germes de desprezo pelo corpo nos foi passado pelas primeiras décadas do cristianismo e acabaram infectando toda a consciência ocidental. A capacidade do homem de criar hoje vida em laboratórios, com seleção do DNA, é típica do desprezo pela matéria enquanto "matéria" e pelo processo natural de seleção e adaptação. Mas é deste modo, que a mente científica tenta nos colocar fora da natureza, reforçando a persistente alienação do corpo que teve início na era cristã.

Muitas pessoas ainda hoje, se sentem desamadas, ou até indignas de ser amadas e muitas ainda, tem a certeza de terem perdido a capacidade de amar. Mas este vazio difuso de que as pessoas se queixam pode ser explicado em termos de perda da conexão com a Deusa, aquela que renova a vida, traz o amor, paixão e fertilidade. É a Deusa Baubo que faz a ligação com uma camada importante da nossa vida instintiva, nos trazendo de volta o riso, a alegria, a beleza e a energia criativa que une a sexualidade com espiritualidade.

Hoje já não temos a oportunidade de segurarmos a imagem da Deusa com o carinho de antigamente, pois a mente racional simplesmente relegou-a a categoria de práticas pagãs arcaicas. Entretanto, no corpo do pensamento psicológico, as imagens das Deusas são consideradas "arquétipos". Arquétipos são formas preexistentes que integram a estrutura herdada da psique comum de todas as pessoas. Essas estruturas psiquícas são dotadas de densidade emocional e quando ativadas tem o poder de transformar o nosso consciente.

Acredito, que Deusas como Baubo, segura e confiante em seu corpo e sua sexualidade, pode nos ensinar a adquirirmos confiança em nós próprias, para que possamos compreender que a nossa sensualidade com seus impulsos naturais não são pecaminosos e sim um dom divino.


ENTENDENDO A SEXUALIDADE SAGRADA

Baubo é uma antiga Deusa da Grécia associada a sexualidade sagrada. É também um arquétipo da vida, da morte e da fertilidade. A sexualidade sagrada, a fertilidade e a imortalidade são conceitos que estão unidos na concepção mágica dos povos antigos. A representação da vulva não é mais do que a perpetuação do feito mágico do nascimento. Toda a criação é um mistério numinoso, um segredo de que a humanidade freqüentemente "se afasta", em uma atitude que, mais tarde, é erroneamente interpretada como "vergonha". Na figura da Deusa Baubo, o seu ventre representa o símbolo numinoso da fertilidade. Enquanto que na posição frontal, toda a nua feminilidade da Deusa é permeada pelo numinoso que dela emana como fascinação, essa limitação à zona do ventre ou do útero expressa do aspecto inumano e grotesco, a autonomia radical do ventre aos "centros superiores" do coração, seios, cabeça, e assim entroniza-o como sagrado.


A Deusa Baubo reflete três aspectos particulares da existência humana: idade Anciã (chegada da menopausa), Mulher Fecunda e poder pessoal transformativo.

Baubo é uma Deusa Anciã irreverente e alegre com sua sexualidade, que vem lembra-nos que sexo é amor e prazer e é, sobretudo mágico. Ela chega as nossas vidas para dizer:

-"Vamos comemorar! Nós temos nossos úteros, nossas vulvas, nossa vida. Vamos dançar!". Tente... não custa nada, dançar e rir ainda é de graça. Coloque a palma de suas mãos um pouco abaixo centro do abdomen (em cima do útero) e embale-se em uma dança improvisada. Quando estiver pronta ria alto e o quanto puder. Rir é contagioso, portanto, a partir de hoje sorria muito e infecte o mundo com a epidemia de seu sorriso.


UMA DAS HISTÓRIAS

Uma viagem a Ruanda

Eu tinha cerca de doze anos, e estávamos no lago Big Bass no norte de
Michigan. Depois de preparar o café da manhã e o almoço para quarenta pessoas,
todas as minhas parentas redondas e bonitas, minha mãe e minhas tias, estavam
deitadas ao sol em espreguiçadeiras, conversando e contando piadas. Os homens
estavam "pescando" — o que significava que eles estavam se divertindo, dizendo
palavrões e contando suas próprias histórias e piadas. Eu estava brincando por perto
das mulheres.
De repente, ouvi uns guinchos agudos. Alarmada, corri para onde as mulheres
estavam. Mas elas não estavam gritando de dor. Elas estavam rindo, e uma das
minhas tias não parava de repetir sempre que recuperava o fôlego entre os gritos, "...
cobriram o rosto... cobriram o rosto!" Essa frase misteriosa provocava novos acessos
de riso em todas elas.
Elas ficaram muito tempo gritando, guinchando e recuperando o fôlego para
voltar a guinchar. No colo de uma das minhas tias havia uma revista. Mais tarde,
quando todas elas cochilavam ao sol, tirei a revista da sua mão adormecida e me
deitei debaixo da espreguiçadeira lendo com os olhos espantados. Na página havia
um caso da Segunda Guerra Mundial. Eis o que dizia:
O general Eisenhower ia visitar suas tropas em Ruanda. [Poderia ter sido
Bornéu. Poderia ter sido o general MacArthur. Os nomes não significavam muito
para mim naquela época.] O governador queria que todas as mulheres nativas se
postassem ao longo da estrada de terra para dar vivas e acenar em boas-vindas a
Eisenhower quando ele passasse no seu jipe. O único problema era que as mulheres
nativas nunca usavam roupa a não ser um colar de contas e às vezes um minúsculo
cinto de correia.

Não, não, isso não seria conveniente. Portanto, o governador chamou o chefe
da tribo e lhe falou do seu problema.
— Não se preocupe — disse o chefe. Se o governador conseguisse algumas
dúzias de saias e blusas, ele se certificaria de que as mulheres se apresentariam
vestidas nesse acontecimento especial. E esses trajes o governador e os missionários
da região conseguiram obter.
No entanto, no dia do desfile e apenas poucos minutos antes de Eisenhower
descer pela longa estrada no seu jipe, descobriu-se que apesar de todas as mulheres
estarem usando obedientemente as saias, elas não haviam gostado das blusas e as
haviam deixado em casa. Pois agora todas as mulheres; estavam enfileiradas dos dois lados da estrada, com saias, mas com o peito nu, e sem mais nenhuma roupa, nem mesmo roupa de baixo.
Ora, o governador ficou apoplético ao saber disso e convocou, irado, o chefe.
Este lhe assegurou que sua mulher havia conversado com ele, garantindo-lhe que as
mulheres haviam concordado com um plano para cobrir os seios quando o general
estivesse passando.
— Você tem certeza? — berrou o governador.
— Tenho toda a certeza — respondeu o chefe. Bem, não havia muito tempo
para discutir, e nós só podemos tentar adivinhar qual foi a reação do general
Eisenhower quando seu jipe veio passando ruidoso e uma mulher de seios nus atrás
da outra levantava graciosamente a frente da saia rodada e cobria o rosto com ela.

Fiquei deitada debaixo da espreguiçadeira abafando meu riso Era a história
mais tola que eu já havia ouvido. Era uma história maravilhosa, uma história
excitante. Mas por intuição eu sabia também que ela era ilícita, por isso guardei-a
para mim por muitos e muitos anos. E às vezes em meio a situações difíceis, em
épocas de tensão e mesmo antes de fazer provas na faculdade, eu pensava nas
mulheres de Ruanda cobrindo o rosto com a saia, e sem dúvida rindo por trás dela. E eu ria e me sentia firme, forte, com os pés na terra.
Esse é sem dúvida o outro benefício das piadas e do ris compartilhado das
mulheres. Tudo se torna um remédio para os tempos difíceis, um fortificante para
mais tarde. É uma diversão boa, limpa, suja. Podemos imaginar o sexual e o
irreverente como algo sagrado?
Podemos, especialmente se atua como medicamento.
Jung observou que, se alguém procura seu consultório queixando-se por um motivo
sexual, o verdadeiro motivo muitas vezes era mais um problema do espírito e da
alma. Quando uma pessoa relatava um problema de natureza espiritual, muitas vezes
era na realidade um problema de ordem sexual.
Nesse sentido, a sexualidade pode ser imaginada como um bálsamo para o
espírito, sendo, portanto, sagrada. Quando o riso sexual é medicinal, ele é um riso
sagrado. E aquilo que provoca o riso medicinal é também sagrado. Quando o riso
ajuda sem prejudicar, quando ele alivia, reorganiza, põe em ordem, reafirma a força e o poder, esse é o riso que gera a saúde. Quando o riso deixa as pessoas alegres por estarem vivas, felizes por estarem aqui, com maior consciência do amor, elevadas pelo eros, quando ele desfaz sua tristeza e as isola da raiva, ele é sagrado. Quando elas se tornam maiores, melhores, mais generosas, mais sensíveis, ele é sagrado.
No arquétipo da Mulher Selvagem, há muito espaço para a natureza das
deusas sujas. Na natureza selvagem, o sagrado e o irreverente, o sagrado e o sexual, não estão separados, mas vivem juntos como imagino um grupo de velhas esperando na estrada que nós apareçamos. Elas estão ali na sua psique, esperando que você apareça, experimentando suas histórias umas com as outras e rindo como loucas.

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