A Lição dos Caramujos
| Você já parou para observar o rastro de um Caramujo, pequenino ou grande, de cor mais escura ou mais clara?
Se ainda não, deveria, pois há uma lição muito bela em seu comportamento e em toda sua anatomia. A primeira lição está no rastro que ele deixa em seu locomover rastejante e que só é revelada a luz do Sol...
Como um portal que só se revela a luz natural, que só se manifesta para aqueles que estão (ou são) em sintonia com a criação, seu rastro ao ser tocado pela luz solar revela um brilho cintilante, de beleza ímpar, um brilho que vai além de ser cientificamente explicado.
Ele provém de onde não se imagina que haja luz, ofuscado no solo em tempos de nuvens carregadas ou no período noturno, mas quando os raios solares se projetam sobre este rastro, o que antes era invisível agora se torna iluminado, revelando todo um percurso... Mostrando-nos que nossos caminhos por mais tortuosos e “longos” que tenham sido, podem se tornar grandes lições, se olhados com "ternura" e tenacidade.
Pois é em nosso "rastro" que reside à sabedoria e o aprendizado do que nos tornamos ao longo de nossa caminhada, aprender com o passado pode ser doloroso e de um grau de dificuldade tamanha, mas onde estará nosso coração se não em nossas raízes?
Quando aprendemos a valorizar nosso rastro, nos conectamos com a beleza existente nele e as experiências dolorosas, antes vistas como ruins e martirizantes, agora terão um novo olhar, uma nova visão. A visão da lição e do aprendizado. Aprendizado que leva ao conhecimento, conhecimento que leva a perpetuação do bem maior e do real amor, através desta sabedoria.
O fato deste rastro, só poder ser visto a luz solar, também remonta a virilidade, a fertilidade e a força do Sol de Belenos/Apolo/Hórus...
Seguindo esta bela lição do Caramujo reparamos que ele não possui "olhos", que ele "enxerga" e se guia por suas antenas que captam a umidade do ar, a direção do vento e demais fatores que lhe dão uma certeza infalível de onde está e pra onde tem de ir, isto nos remete aos nossos sentidos interiores, a voz da Alma e a nossa intuição.
Um grande Druida certa vez me ensinou que temos cinco sentidos externos e cinco sentidos internos, ou seja, os cinco sentidos da Alma, capazes de nos mostrar a verdade por trás da matéria. Então, teríamos: a visão, o olfato, o tato, o paladar e a audição, mas em uma dimensão absurdamente mais abrangente, que sentiria tudo que nosso corpo físico não consegue captar, de modo a nos conduzir através dos portões do "ver além".
A visão: premonição, enxergar a situação em todas as suas possibilidades e tudo que ela afeta ou pode afetar, abrangendo-a como um todo.
A audição: ouvir a música do infinito, a voz que vem do âmago da alma, a canção nunca antes ouvida, feita em melodias e acordes peculiares, moldados e personalizados pelo inconsciente de cada Alma que nos traz paz e equilíbrio e que nos desperta para a "nobre simplicidade".
O paladar: sentir o gosto e a textura de tudo que tocamos com o espírito, o que nos remonta aos prazeres de sentir os sabores das estações, do orvalho que ornamenta as folhas da plantas na aurora, do doce sabor do voar das libélulas e das abelhas, na dança sagrada da busca pelo alimento.
O olfato: o instinto de "farejar", detectar uma tempestade mesmo que ela esteja á quilômetros de distância, sentir a umidade do ar, a essência das flores, quando se "fareja" ou invés de “cheirar” despertamos instintos primitivos que nos conectam com toda a harmonia e o suave equilíbrio que rege a criação em sua temperança.
E por fim, o tato: é quando tocamos com a Alma, "perfuramos" a espessa camada da matéria, do concreto e atingimos o "abstrato" o "surreal" dando vazão ao "sentir", ao percorrer com as palmas das mãos o tronco de uma Árvore, como o Pinho, percebendo suas nuances escamosas; é ser cauteloso ao tocar uma Rosa ao segurá-la pelo caule e não ser ferido por seus espinhos e desfrutar a macieis de suas pétalas.
A última lição que o Caramujo nos ensina (pelo menos que este Druida que vos escreve conseguiu compreender) é o seu "caracol", sua "morada", seu abrigo. Ele se "esconde dentro dele mesmo" quando algum perigo é sentido, quando algo ainda não conquistou sua confiança, é um refúgio seguro e acolhedor, protege do frio e no calor, possui uma sensação térmica também, nossa casa é nossa Alma, não de uma maneira egoísta e solitária, mas compreendendo que isto nos leva a exteriorizar estes pensamentos fazendo com que o universo pulse conosco em uma fusão de sensações únicas e "reparadoras", que são transmitidas ao nosso “eu exterior” (arquétipo) e a todas as pessoas que fazem parte de nossa “comunidade”.
O caramujo e seu caracol nos ensinam que quando estamos perdidos em meio às perguntas sem respostas, conturbadas situações de frustração, num Mar em fúria, cegos pela Tempestade, pela neve ou na busca da compreensão de algo a nossa volta, devemos nos voltar para dentro de nós mesmos, para o nosso "self", de modo a nos reconectarmos com nossas raízes.
Se fizermos esta "viagem interior" encontraremos o que buscamos, nos tornaremos mais felizes e realizados como um todo.
Pois em nosso âmago reside a "ligação ancestral" a sabedoria perdida, esquecida... E nos comunicando com esta sabedoria, criamos e fortalecemos o elo com o que realmente importa neste plano: o que fizemos, o que estamos fazendo e o que faremos? Esta linha de raciocínio nos conduz a vida plena e ao equilíbrio emocional, psíquico e espiritual, seja qual for o caminho que cada um venha a trilhar.
E por fim se observarmos este caracol, veremos que ele foi desenhado e moldado pela Mãe Natureza com o espiral do poder, da força, da espiritualidade. Quando nos encontramos no centro de nossa espiral devemos olhar ao redor e notar que nosso caminho está a nossa volta, pois nos circunda, para que possamos enxergá-lo e compreendê-lo.
Portanto da próxima vez que cruzar com um Caramujo, agradeça pela bela e sábia lição de vida!
Por Ëldrich Hazel Druida, amante do esplendor da Criação, músico e poeta, pesquisa e estuda o Druidismo e o Ogham, alfabeto e oráculo celta. |
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário