08/05/2010

O MITO DE PSIQUE



O mito de Eros (Cupido) e Psique tem sido muito usado como analogia para a psicologia feminina por diversos analistas junguianos.

Psique é uma mulher mortal grávida que procura a união com seu marido, Eros, Deus do Amor e filho da Deusa Afrodite. Entretanto, compreende que deve submeter-se a brava Afrodite para reconciliar-se com Eros.

Ao apresentar-se à Deusa, essa para testá-la lhe dá quatro tarefas. As tarefas possuem importantes significados simbólicos, que representam capacidades que todas as mulheres precisam desenvolver. A cada tarefa cumprida, Psique adquire uma habilidade que não tinha antes, habilidade masculina ("animus") presente na personalidade da mulher.


O mito de Eros (Cupido) e Psique nos foi transmitido por Apuleio, poeta romano do século II d.C., em seu livro O Asno de Ouro ou Metamorfoses.

O MITO

Psique era a mais nova e bela das três lindas filhas de um rei e uma rainha. Sua beleza ao ser exaltada pelo mundo inteiro, chegando a ser comparada com a Deusa Afrodite. Essa irritou-se com a atenção dispensada a essa mera mortal e chamou seu filho Eros para ajudá-la a resolver o problema. As setas de Eros eram irresistíveis e invencíveis e todos que eram atingidos por elas apaixonavam-se. Afrodite pediu ao filho que fizesse que o homem mais vil e cruel se apaixonasse por Psique.

Eros preparou-se para obedecer às ordens maternas. Havia duas fontes no Jardim da Deusa, uma de água doce, outra de água amarga. Eros encheu dois vasos de âmbar, cada um com água de uma das fontes e dirigiu-se ao quarto de Psique que dormia. Derramou, então, algumas gotas da água da fonte amarga sobre os lábios da jovem, depois, tocou-a de lado com a ponta de sua seta. Psique acordou e abriu os olhos diante de Eros, que perturbado, acabou ferindo-se com sua própria seta. Descuidando-se do seu ferimento, derramou as balsâmicas gotas da alegria sobre os cabelos da moça.

Desde deste dia, nenhum rei, príncipe ou plebeu apresentou-se mais para pedi-la em casamento. Suas duas irmãs mais velhas casaram-se, mas Psique, confinada em seus aposentos, deplorava a solidão, irritada com sua beleza, que agora não mais despertava o amor.

Seus pais, decidiram então, buscar o conselho do oráculo do Deus Apolo em Delfos, que respondeu:

-" A jovem não se destinava a ser esposa de um amante mortal. Seu futuro marido a esperava na montanha e era uma horrível serpente alada".

Os pais foram aconselhados a levar Psique ao alto da montanha para que encontrasse a sua sorte. Quando lá foi deixada, a jovem tremia de medo e apreensão e o gentil vento sul, Zéfiro, com suas brisas suaves fez com que ela adormecesse. Quando acordou na manhã seguinte, viu-se em um palácio de grandiosidade inimaginável. Dúzias de servas apareceram para satisfazer seus caprichos.

Durante à noite, foi acordada por uma voz gentil, era o seu amante. Na escuridão, não podia vê-lo, mas seu corpo e sua pele pareciam ser de um homem jovem de grande beleza. Depois dessa primeira noite, Psique ficou curiosa para ver seu rosto. Entretanto, ele insistiu que ela jamais deveria olhar seu rosto e, se isso acontecesse teria que deixá-la para sempre.

Certo dia, Psique recebeu a visita de suas irmãs, que ao chegar queriam saber de seu amante. Como jamais vira seu rosto, suas respostas foram consideradas muito inconsistentes.

As irmãs percebendo que existia muitas falhas nas histórias de Psique, provocaram-na dizendo:

-"Esse é um palácio magnífico, mas mesmo assim é uma preço alto demais por ter que deitar com um monstro".

Quando as irmãs partiram, Psique ficou cheia de dúvidas e então, resolveu que usaria astúcia, mas iria tentar ver o seu amante. Ela esperou acordada sua chegada. Quando ele entrou no quarto escuro e caiu no sono, ela foi até a sala e pegou uma lamparina à óleo, que levou até o quarto. Vendo-o na luz pela primeira vez, não pôde acreditar em seus olhos: era a visão mais linda do mundo, talvez até ele fosse um Deus. Ela curvou-se para beijá-lo e um pouco do óleo quente da lamparina caiu sobre o seu ombro, acordando-o.


O jovem ergueu-se num salto e gritou:

-"Eu disse que nunca deveria olhar meu rosto!"

Vestindo seu manto da invisibilidade, ele fugiu do quarto. Psique correu atrás dele, mas já era tarde demais. Enquanto o perseguia, ouviu-o identificando-se como sendo Eros, o Deus do Amor, filho da Deusa Afrodite.

Psique soube que estava condenada. Era óbvio que seu relacionamento com Eros não teria mais futuro e ainda, sua própria vida estava fadada a extinguir-se. Tudo que lhe restava era jogar-se aos pés de Afrodite e jurar servi-la o resto de seus dias. Talvez a Deusa tivesse um pouco de compaixão dela.

Zéfiro encaminhou Psique até às câmaras de Afrodite, que apreciou a oportunidade de vingar-se pessoalmente de sua rival mortal.

Psique joga-se aos prantos as pés da Deusa, rogando seu perdão. Afrodite, embora não tenha intenção de perdoá-la, nem mesmo ajudá-la a reconciliar-se com Eros, resolveu testá-la.

PRIMEIRA TAREFA: SEPARAÇÃO DAS SEMENTES

Afrodite encaminha Psique até uma sala e mostra-lhe um monte enorme de sementes misturadas: milho, cevada, papoula, ervilha e feijão. Diz então, que ela deve separar cada espécie de semente em um monte em separado até o anoitecer.

A tarefa parece impossível, até que uma grande quantidade de despretenciosas formigas vêm em seu auxílio, colocando cada espécie, grão por grão, em seu monte próprio.

De igual forma, quando devemos tomar uma importante decisão, em primeiro lugar, devemos classificar uma miscelânea de sentimentos conflituosos. A situação tornar-se mais confusa quando o arquétipo de Afrodite toma parte e influencia nas escolhas.

A "classificação das sementes", requer que olhemos para o nosso interior, onde deve-se peneirar sentimentos, valores e motivos, separando o que é importante do insignificante.

Quando aprendermos a nos deter diante de uma situação confusa, não agindo até que tudo se esclareça, aprenderemos a confiar nas "formigas". Esses insetos são análogos a um processo intuitivo e estão associados com o inconsciente. Ou o esclarecimento pode vir também, do trabalho consciente, mediante uma avaliação, que determinará a prioridade dos elementos envolvidos na questão.

SEGUNDA TAREFA: COLHENDO A LÃ DOURADA

Em seguida, Afrodite ordenou a Psique que adquirisse amostras de lã dourada que deveria ser retirada dos terríveis carneiros do sol. Eram animais enormes, agressivos, providos de chifres, que ficavam no campo, dando cabeçadas um no outro. Se Psique tivesse que andar entre eles certamente seria esmagada ou morta.

Uma vez mais a tarefa parece impossível, até que um verde junco vem em sua ajuda e a aconselha a esperar até o pôr-do-sol, quando os carneiros se recolhem e dispersam. Nesse momento, ela poderá apanhar com segurança fios do velo de ouro das amoreiras contra as quais os carneiros tinham se raspado.

Simbolicamente, o velo de ouro representa o poder que toda mulher precisa adquirir para não ser destruída na tentativa de conseguir algum. Quando saímos por esse mundo competitivo, almejando adquirir poder e posições, podemos nos tornar feridas ou desiludidas se não tivermos plenos conhecimentos dos perigos que devemos enfrentar. Não devemos nos tornar insensíveis, mas temos que ser prudentes para que não nos tornemos uma "vítima pisoteada".

Psique nos revela, que em situações adversas, o melhor é primeiro parar e observar, esperando para gradualmente obter o poder indiretamente.

A busca do velo de ouro sem a destruição de Psique é metáfora para a tarefa de ganhar poder e permanecer uma pessoa compassiva. Essa tarefa é muito útil para toda aquela mulher que está aprendendo a se afirmar.

TERCEIRA TAREFA: ENCHER A JARRA DE CRISTAL

Para a terceira tarefa, Afrodite põe uma jarra de cristal na mão de Psique e manda que a encha com a água de um regato proibido. O tal regato cai em forma de cascata de uma fonte no pico do mais alto rochedo íngreme até a mais ínfima profundeza do mundo subterrâneo antes de ser levado para cima através da terra para emergir uma vez mais da fonte.O regato gelado também é guardado por dragões o que torna a tarefa de encher a jarra quase impossível.

Desta vez, quem vem ajudar Psique é uma águia. A águia simboliza a habilidade de ver a paisagem de uma perspectiva distante e precipitar-se velozmente para apoderar-se do que realmente necessita.

É de especial importância, que nós mulheres, consigamos alguma distância emocional de nossos relacionamentos, para que possamos ver padrões totais, necessários para selecionar detalhes importantes, que possibilitem nos apoderarmos do que é significativo.


Metaforicamente, esse regato no qual Psique deve encher sua jarra, representa a corrente circular da vida.

QUARTA TAREFA: APRENDER A DIZER NÃO

Para quarta e última tarefa, Afrodite ordena a Psique que desça ao mundo subterrâneo com uma pequena caixa para Perséfone encher com seu creme de beleza. Psique relaciona a tarefa com a morte. Agora, uma torre vista de longe lhe dará um conselho.

Essa tarefa é um tradicional teste de coragem e determinação de um herói, pois Psique é informada que encontrará pessoas que lhe pedirão ajuda e por três vezes deverá endurecer seu coração e negar todos os apelos, para poder continuar.

A tarefa que Psique executa quando diz não três vezes, é para exercitar a escolha. Muitas mulheres permitem serem molestadas e desviadas de fazerem alguma coisa por si mesmas. Não podem realizar o que quer que estabeleceram fazer ou o que é melhor para elas, até que aprendam a dizer não.

É através dessas quatro tarefas que Psique evolui. Desenvolve capacidades e forças enquanto sua coragem e determinação são testadas. Mas, apesar de tudo, sua essência e suas prioridades permanecem inalteradas. Acima de tudo, ela valoriza seu relacionamento amoroso e arrisca todas as coisas por ele, e no final, vence.



A MULHER-HEROÍNA

Nas estradas da vida sempre haverá cruciais bifurcações, onde devemos tomar decisões. Qual caminho tomar? Que direção seguir? Continuar um relacionamento ou abandoná-lo? Ter um bebê ou praticar um aborto? Apostar no casamento ou se divorciar? Desistir ou perseverar? Qual a escolha? E qual o seu custo?

Assumir nossas escolhas nem sempre é fácil. O que define a heroína é que ela tem a coragem de fazer isso. A não-heroína é a que concorda com a escolha dos outros. É muito mais fácil consentir do que realizar, mas o que pode ocorrer no final é sentir-se vitimada e acusar:

-"Eu não queria fazer isso, foi idéia sua!".

Tornar-se heroína é uma possibilidade iluminadora para todas as mulheres. Fazer valer nossos direitos é uma tarefa heróica, para toda aquela mulher que sempre colocou seu marido e filhos em primeiro lugar.

A heroína para se tornar apta para realizar suas escolhas, deve repetir a primeira tarefa de Psique de "separar as sementes" toda vez que se encontrar em uma encruzilhada da vida. Deve deter-se para selecionar suas prioridades e causas, e as potencialidades na situação. Precisa ver quais são as escolhas, qual poderia ser o custo emocional que as decisões acarretariam e o que importa mais intuitivamente a ela. Com base em quem ela é e no que sabe, deve tomar uma decisão sobre qual caminho seguir.

Para desenvolver a clareza, ela precisará também resistir à pressão interior de decidir precipitadamente.

Toda mulher que decide e prossegue em sua jornada heróica, se confrontará com obstáculos, tarefas e perigos. O como ela responderá é que a farão mudar. A viagem da heroína é uma jornada de descobrimento e desenvolvimento, de aspectos integrantes de si mesma em uma personalidade total, embora complexa.

Tanto no mito como na vida, a mulher-heroína encontrará dilemas, mas tudo o que deve fazer é ser ela mesma, fiel aos seus princípios e lealdades, até que alguma coisa inesperada venha em sua ajuda. Sempre algo virá, nessas situações arquetípicas, portanto, nunca deve-se desistir ou agir por medo. O melhor é esperar, meditar ou orar pedindo clareza, pedindo a vinda do inconsciente para que possa transcender o impasse.

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