A Morte de Orfeu, por Albrecht Dürer
Peculiaridades
O orfismo diferia da religião grega popular das seguintes maneiras:
* caracterizava as almas humanas como divinas e imortais, mas condenadas a viver (por um período) em um círculo penoso de sucessivas encarnações através da metempsicose ou transmigração de almas;
* prescrevia uma forma ascética de vida, ou vida órfica, a qual, junto com ritos iniciáticos secretos, deveria garantir não apenas o desprendimento do tal círculo penoso mas também uma comunhão com deus(es);
* advertia sobre uma punição pós-morte por certas transgressões cometidas durante a vida;
* era fundamentada sobre escritos sagrados com relação à origem dos deuses e seres humanos.
* prescrevia uma forma ascética de vida, ou vida órfica, a qual, junto com ritos iniciáticos secretos, deveria garantir não apenas o desprendimento do tal círculo penoso mas também uma comunhão com deus(es);
* advertia sobre uma punição pós-morte por certas transgressões cometidas durante a vida;
* era fundamentada sobre escritos sagrados com relação à origem dos deuses e seres humanos.
Evidências
As visões e práticas órficas foram testemunhadas por Heródoto, Eurípides e Platão. A maioria das fontes de ensinamentos e práticas órficas é atrasada e ambígua, e alguns estudiosos afirmam que o orfismo tenha sido na verdade uma construção de uma data mais recente do que se acredita. Porém, os papiros Derveni, descobertos há poucos anos, permitem datar a mitologia órfica em quatro séculos AEC ou até uma data mais antiga que essa. Outras inscrições encontradas testificam a antiga existência de um movimento com as mesmas crenças centrais que foi mais tarde associado com o nome do orfismo.
Mitologia
As teogonias órficas são trabalhos genealógicos como a Teogonia de Hesíodo, mas os detalhes são diferentes. O relato principal é: Dionísio (na sua encarnação de Zagreus) é o filho de Zeus e Perséfone; ele foi assassinado e fervido pelos Titãs. Zeus lançou um raio nestes e Hermes salvou o coração de Zagreu. As cinzas resultantes geraram a humanidade pecaminosa, composta dos corpos dos Titãs e de Dionísio. A alma do homem (fator dionisíaco) é portanto divina, enquanto o corpo (fator titânico) aprisiona a alma. Declarava-se que a alma retornaria repetidamente à vida, atada à roda do renascimento. O coração de Dionísio é implantado na coxa de Zeus, e este então engravida a mortal Semele com o re-nascido Dionísio. A Teogonia Protogonos, perdida, composta cerca de 500 AEC, só é conhecida através de comentários encontrados em papiros e de referências nos autores clássicos, como Empédocles e Píndaro. A "Teogonia Eudemiana ", também perdida, foi composta no século V AEC, e teria sido o produto de um culto sincrético Baco-Curético. A Teogonia Rapsódica , também perdida, composta na idade helenística, incorporava os trabalhos anteriores, e ficou conhecida através de sumários nos escritos de autores neo-platonistas. Já os Hinos Órficos, 87 poemas hexamétricos de extensão mais curta, foram compostos no final da era helenística ou início da era imperial romana.
Escatologia
As fontes epigráficas demonstram que a mitologia órfica sobre a morte e ressurreição de Dionísio estava associada a crenças em uma vida pós-morte abençoada. Tábuas de ossos encontradas em Olbia (século V AEC) traziam inscrições curtas e enigmáticas do tipo: Vida. Morte. Vida. Verdade. Dio(nísio). Órficos. A função dessas tábuas não se sabe qual era. Folhas douradas encontradas em túmulos de Turii, Hipônio, Tessália e Creta (século IV AEC) davam instruções ao morto. Quando ele chegasse ao Hades, deveria tomar cuidado para não beber do Rio Letes (Esquecimento), mas do poço de Mnemosyne ("Memória"), e deveria dizer aos guardas: Eu sou o filho da Terra e do Céu Estrelado. Estou com sede, dê-me algo para beber da fonte de Mnemosina. Outras folhas douradas diziam: "Agora você está morto, e agora você renasce neste mesmo dia, três vezes abençoado. Diga a Perséfone que o próprio Baco redimiu você."
Pitagorismo
As visões e práticas órficas têm elementos paralelos com o Pitagorismo. Há, porém, muito pouca evidência para determinar a extensão de qual movimento que influenciou o outro.
Os papiros Derveni
Os papiros Derveni compõem um pergaminho antigo grego que foi encontrado em 1962. É um tratado filosófico que é um comentário alegórico em um poema órfico, uma teogonia que diz respeito ao nascimento dos deuses, produzido no círculo do filósofo Anaxágoras, na segunda metade do século V Antes da Era Comum, tornando-o a mais importante nova peça de evidência sobre a filosofia e religião gregas a vir à tona desde a Renascença (Janko, 2005). Ele data de cerca de 340 A.E.C., durante o reinado de Filipe II da Macedônia, sendo o mais antigo manuscrito sobrevivente da Europa. Ele foi finalmente publicado em 2006.
Papiro de Derveni
O Papiro de Derveni, datado do século V a.C., é um papiro da Grécia Antiga. O documento é um tratado filosófico em um poema órfico e se refere ao gênese, o conhecimento de Deus, o misticismo e à cerimônias religiosas que levam ao monoteísmo. É considerado o manuscrito mais antigo da Europa.
Descoberta
O pergaminho foi encontrado em um sítio arqueológico em Derveni, Macedônia, ao norte da Grécia, no túmulo de um homem nobre, em uma necrópole que fazia parte de um rico cemitério que pertencia à antiga cidade de Lete. É o livro mais antigo que sobreviveu na tradição ocidental e um dos poucos papiros sobreviventes encontrados na Grécia. O pergaminho havia sido parcialmente carbonizado na pira do túmulo do nobre. Os 266 pedaços recuperados, de tamanhos variando entre 2-3 centímetros a alguns milímetros, permitiram a reconstrução do papiro, com o texto distribuído em 26 colunas. O papiro é mantido no Museu Arqueológico da Tessalónica.
Conteúdo
Fragmentos do papiro de Derveni
O texto é um comentário de um poema hexâmetro atribuído a Orfeu. Fragmentos do poema são citados. O poema começa com as palavras “Feche as portas, tu, iniciante”, uma famosa admoestação ao segredo recontado por Platão. A teogonia descrita no poema tinha a Noite dando à luz o Céu (Urano), que se tornou o primeiro rei. Cronos (o tempo) vem em seguida e toma o reinado de Urano, mas é sucedido por Zeus. Zeus, tendo ouvido oráculos de seu pai, vai até o santuário da Noite, que conta a ele “todos os oráculos os quais em seguida ele colocaria em efeito”. Ao ouvi-los, Zeus engoliu o falo (do rei Urano), que primeiro tinha ejaculado o brilho do céu.Leituras recentes
O texto não foi oficialmente publicado por quarenta e quarto anos depois de sua descoberta (embora três edições parciais tenham sido publicadas). De acordo com o editor A. L. Pierris, Kyriakos Tsantanoglou, professor emérito da Universidade Aristotélica da Tessalónica atrasou sua publicação. Um time de especialistas se reuniu no outono de 2005, liderados por A. L. Pierris do Instituto de Estudos Filosóficos, Dirk Obbink, diretor do projeto dos papiros Oxyrhynchus na Universidade de Oxford, com a ajuda de modernas técnicas de imagem multi-espectral por Roger Macfarlane e Gene Ware da Universidade Jovem de Brigham para tentar uma aproximação melhor à edição de um texto difícil. Enquanto isso, o papiro finalmente foi publicado por estudiosos da Tessalónica (Tsantsanoglou e col.), em uma edição a qual falta um aparato crítico para registrar as contribuições de vários estudiosos mas ao menos provém um texto completo dos papiros, baseado na autópsia de fragmentos, com fotografias e traduções, depois de tanto tempo de espera. Mais trabalho certamente precisa ser feito.
Bibliografia
* Albinus, Lars. 2000. The House of Hades. Aarhus.
* Betegh, Gábor. 2006. The Derveni Papyrus. Cosmology, Theology and Interpretation. Cambridge.
* Burkert, Walter. 2004. Babylon, Memphis, Persepolis: Eastern Contexts of Greek Culture. Cambridge, MA.
* Graf, Fritz. 1974. Eleusis und die orphische Dichtung Athens. Berlin, New York.
* Guthrie, W. K. C. 1952. Orpheus and Greek religion. London.
* Pugliese Carratelli, Giovanni. 2001. Le lamine doro orfiche. Milano.
* West, Martin L. 1983. Orphic Poems. Oxford.
* Robert Parker. 1995. "Early Orphism". In The Greek World, Anton Powell (ed.).
* Este texto foi traduzido da en-Wikipedia
Metempsicose
Metempsicose (do grego: meta: mudança + en: em + psiquê: alma) é o termo genérico para transmigração da alma, de um corpo para outro, seja este do mesmo tipo de ser vivo ou não. É usualmente denominada de metacomorfose. Essa crença não se restringe à reencarnação humana, mas abrange a possibilidade da alma humana encarnar em animais ou vegetais. Era uma crença amplamente difundida na Pré-história e na Antiguidade, sendo encontrada entre os egípcios, gregos, romanos, chineses e na Índia, etc,. Entre os budistas tibetanos essa migração é possível, embora muito rara (os budistas descrevem várias formas de reencarnação, sob vários contextos diferentes). Os esquimós e outros povos atuais considerados "primitivos" mantém a mesma convicção.
É considerada entre os espiritualistas em geral uma involução.
O termo é encontrado em Pitágoras e Platão. Acredita-se que Pitágoras aprendeu seu significado com os egípcios, que por sua vez aprenderam com os indianos. A problemática desse raciocínio é a divergência entre as crenças. Platão e os indianos não acreditavam na metempsicose. Utilizavam o termo na ausência de outro como sinônimo de reencarnação. Já os Egípcios, estes sim, acreditavam na metempsicose (como ela é descrita aqui). Dessa maneira, sendo o termo grego, há polêmica quanto ao seu significado.
me.tem.psi.co.se feminino
1. religião: movimento cíclico por meio do qual um mesmo espírito, após a morte de seu antigo corpo, retorna sucessivamente à vida, animando outra estrutura viva, seja esta vegetal, mineral ou animal, não necessariamente nesta ordem.
Um homem pode morrer, sofrer metempsicose e encarnar numa vaca.
2. filosofia, religião: doutrina que professa essa crença, difundida pelo misticismo especulativo do orfismo e pitagorismo, e adotada por correntes filosóficas como o empedoclismo, platonismo e neoplatonismo. Concepções semelhantes são encontradas tanto em religiões orientais como o budismo e o hinduismo, quanto entre civilizações da Antigüidade (p.e. Egito e Pérsia), na pré-história e entre povos ditos "primitivos" como os esquimós. (deriv. por extensão de sentido.)
3. religião: reencarnação
«A velhota, quando tinha barbeias de peru no pescoço e olheiras de edema nas pálpebras inferiores, se meteu na cabeça que poderia, sem morrer, conseguir a metempsicose aqui mesmo na terra. Isto é, vender a sua banca de prostituição e ir ser feliz, sem remorsos nem conseqüências, em sua terra natal. Ter um apartamentozinho com um gato, fazer compras duas vezes ao dia numa...» - José Geraldo Vieira - A Mais Que Branca
«Linguagem do marquês de Pombal - murmurou Galvão Mexia. - Então, Sr. Duque de Lafões - continuou em voz baixa -, ainda não crê na metempsicose? Aqui a tem! A alma do grande marquês no corpo derreado deste ministro! Admirável! Estupendo! - Mais que tudo - prosseguiu Jorge Pinto, depois de curto silêncio -, prezo a santa paz.» - A. Silva Gaio
4. m.q. transmigração
Etimologia
gr. metempsúkhósis,eós 'passagem da alma de um corpo para um outro', de metá 'mudança' + v.gr. empsukhóó 'animar', este de émpsukhos,os,on 'que tem o sopro em si, animado', e de en 'em, dentro' + psukhê,ês 'sopro', pelo lat.tar. metempsychósis,is 'id.'; AGC vê interveniência do fr. métempsycose (1564) 'doutrina segundo a qual uma mesma alma pode animar sucessivamente vários corpos'; ver met(a)- e psic(o)-; f.hist. 1716 metempsycose, 1716 metempsycosis
Referências
HOUAISS, ANTONIO e VILLAR, MAURO DE SALES. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001
AGC = Antônio Geraldo da Cunha. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 1982; 2ª ed., 1986.
extraído de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Orfismo_%28culto%29
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papiro_de_Derveni
http://pt.wikipedia.org/wiki/Metempsicose
FONTE: WIKIPÉDIA
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